O método Montessori, por compreender que a criança é capaz de melhorar pelo prazer de se aperfeiçoar e por reconhecer que o maior prazer do aprendizado está no processo de aprender e não no que foi aprendido, é veementemente contra prêmios e castigos, no entanto, sei que este tema é
polêmico, e reforço: a intenção do Lar Montessori não é avaliar a educação que
você dá para sua criança. Nós estamos aqui para ajudar, para transmitir opções
que julgamos interessantes e para contar o que uma das maiores mentes do século
XX sugeriria para nós, do século XXI.
O maior prazer que podemos ter é aquele de estarmos
satisfeitos conosco mesmos, de perceberemos que somos capazes de nos comportar
como desejamos. Aliado a este está o talvez ainda superior prazer de aprender.
A alegria de enxergar o mundo melhor do que enxergávamos antes e de, portanto,
dominá-lo mais, só é comparável a alegria de dominarmos a nós mesmos. Desta
forma, devemos nos esforçar ao máximo para que a criança possa sentir, em seu
tempo e sem nenhum tipo de pressão externa, este tipo tão saudável de
bem-estar.
Montessori conta uma história divertida. Certa vez,
estava em sua sala de aula, em San Lorenzo, quando um senhor entrou na escola,
como visita, para conhecer seu trabalho, já famoso à época. Ele trazia um saco
com doces e bombons que iria dar às crianças. Entregou o primeiro para uma
menininha que havia conseguido, com sucesso, desenvolver uma atividade
complexa: ela deveria somar quantidades menores que dez de forma a chegar em 10
de diversas maneiras. Ela agradeceu pelo bombom, e com ele continuou a
atividade, o utilizando para “bater” nas pecinhas que contava, de forma a
contá-las com mais atenção.
Em uma outra situação, um garoto que teve um
comportamento muito bom recebeu uma medalha de metal para pendurar no pescoço.
Deveria ficar com ela sentado a uma cadeira, para servir de exemplo aos
colegas. Um outro rapazinho, não tão bem comportado, veio até ele e lhe
perguntou se podia usar a medalha. Imediatamente ele a tirou do pescoço e, com
um olhar aliviado, voltou ao trabalho.
Montessori ainda reforça estes exemplos, explicando
que a sensação de ser parabenizado após um aprendizado é de humilhação. Seria a
mesma sensação de um cientista que, depois de ter descoberto a antimatéria ou a
cura do câncer, recebesse uma medalha e tivesse de ficar sentado como exemplo
para seus colegas. A vocação de um descobridor não é essa, seu prazer é o
trabalho e o conhecimento, e assim é com todas as crianças.
Presentear uma criança pelo seu bom comportamento
seria como dar um bombom a um monge que conseguisse manter o silêncio e a
castidade. Seu prêmio é o amadurecimento de sua personalidade, a sua ascenção
espiritual. O único que lhe poderia presentear não está entre nós.
Da mesma forma, o castigo não é uma prática saudável.
O castigo reforça o erro, faz a criança pensar sobre o que fez de errado, e o
que fizemos de errado não nos ensina. Ensina-nos, antes, repetir o
comportamento certo, tanto o nosso quanto o alheio. Buscar alternativas dentro
do que sabemos ser correto ou desejável. É sobre isto que devemos meditar, e
não sobre o erro. Quando uma criança é colocada no quarto sem televisão, ou
quando é privada de algum de seus prazeres por ter cometido um erro, existem
dois sentimentos possíveis: o surgimento da raiva e o sentimento de culpa.
Nenhum dos dois é produtivo para o aprendizado.
Quando houver um comportamente inadequado, não julgue
a criança, julgue a ação. Em vez de dizer: “Que menino mal educado você é!” ou
“Que garota mimada você está sendo hoje!”, diga “Seja gentil com sua avó, ela
não gostou do que você disse” ou “Você já pediu coisas demais hoje, não podemos
ter tudo sempre”. Novamente, é claro que de vez em quando perdemos a calma,
exatamente como as crianças. E exatamente como devemos fazer com elas, devemos
evitar a culpa, e procurar a melhora do comportamento.
Quando a criança for mais velha, vale a pena abordar
as questões pelo lado racional. A partir dos seis ou sete anos, ninguém mais se
satisfaz com “Menino mau!” ou “Bom garoto!” e nenhuma criança aceita que lhe
digamos “Não faça isso” ou “Aja assim, e não daquela forma!”. É necessário, a
partir de então, expor os motivos pelos quais determinadas ações são
interessantes e produtivas e outras atitudes são inapropriadas e incomodam os
que estão à volta.
Como conclusão, acho importante ressaltar que
Montessori não evitaria nunca o carinho, a conversa franca e, por que não, o
elogio. Tudo isso pode existir, sim, mas devemos ter em mente que não somos nós
que recompensamos a criança pelo seu amadurecimento pessoal e pelo seu
aprendizado. É ela mesma, sua mente e sua percepção da própria evolução.